lundi 5 août 2013

Brasileira ensina arte de tricotar a funcionários da Louis Vuitton ''http://moda.terra.com.br''


Márcia de Carvalho posa em frente ao atêlie Foto: Rosângela Espinossi / Especial para Terra
Márcia de Carvalho posa em frente ao atêlie
Foto: Rosângela Espinossi / Especial para Terra


Foto: Rosângela Espinossi / Especial para Terra


Em um pequeno espaço na rua de Gardes, na região conhecida como Goutte D’Or, vizinha a Montmartre, em Paris, a brasileira Márcia de Carvalho realiza um trabalho diferente e reconhecido até pela marca Louis Vuitton. Além de tocar desde 2008 o projeto chamado Chaussettes Orfelines, é lá que está instalada a única escola de malharia da França.
Em meio a peças feitas a partir de meias que ficaram sem um dos pés, por isso o nome de “meias órfãs”, na tradução para o português, é no próprio ateliê, perto da estação metrô Barbès-Rochechouart, que acontecem todas as aulas da escola, com cursos rápidos ou de formação prolongada, de três anos, com número limitado de oito alunos por turma.
Foi lá que um grupo de cinco funcionários da Louis Vuitton fez um estágio de cinco dias no começo do ano. “Vieram para se familiarizar com a produção do tricô manual e à máquina. Tricotaram, criaram peças e aprenderam termos técnicos, para ter argumentos na hora de escolher e discutir com os fornecedores de malhas da grife”, conta Márcia, que ensinou os “segredos”da malharia junto com outros professores da escola.


A instituição foi criada há três anos por um grupo de 10 profissionais da área de moda, a partir de uma ideia de Véronique Dupérier, ex-professora da Esmod. Márcia é responsável por ensinar criação e estilo em malha. “Gosto de criar de forma intuitiva”, afirma ela, ao mostrar com entusiasmo blazers, blusas, gorros e cachecóis, entre outras coisas, feitas a partir das meias doadas, com preços que variam de 13 euros (enfeites de cabelo e chaveirinhos) a 450 (mantôs).
Inserção social
Márcia recebe doações de meias de vários lugares. “Muitas delas chegam até perfumadas”, conta ela, que lembra ter recebido um lote imenso de meias abandonadas pelos peregrinos do Santuário de Lourdes, que caminhavam descalços. “A organização do projeto religioso se viu com muitas meias sem dono e me mandou”, conta.
Quando as meias chegam, passam por uma triagem, são lavadas e começam a se transformar em peças únicas, uma vez que cada uma é feita à mão, com meias diferentes, o que sugere um criativo trabalho de patchwork. Um blazer leva em média 20 meias para ser finalizado e o preço pode variar de 75 a 190 euros.
Ideia na gaveta
O projeto nasceu quando Márcia, que já trabalhou para marcas como Chloé e Paule Ka sempre na área de malharia,  arrumava a gaveta dos filhos, em 2007. “Havia recebido uma proposta da prefeitura de Paris para participar de um concurso para mostrar algo diferente e criativo na área de moda. E a ideia chegou justamente quando vi que tinha um monte de meias sem par.”
Com peças recebidas de vários lugares da França como doação, são criados ainda desenhos para blusas e vestidos, a partir da misturas de texturas e cores das meias. Muitos deles são depois transformados em estampas.

Além da malharia, Márcia trabalha ainda com renda de bilros feitas por cooperativas de mulheres rendeiras do Ceará. Ela compra pedaços da renda e os transforma em boleros, vestidos, blusas. Renda de Calais e outros tipos de rendas francesas também estão no repertório da criadora paulista.“Pretendo levar esse projeto ao Brasil, caso alguma empresa se interesse por ser parceira”, revela Márcia, que cursou Ciências Sociais na PUC, em São Paulo, e se mudou para Paris há mais de 20 anos. “A reciclagem das meias faz parte da minha filosofia e da preocupação que tenho com o meio ambiente. Tanto que estou pensando em outros projetos a partir das meias.” O ateliê também oferece oficinas para transformação de roupas esquecidas no guarda-roupa. 
Goutte d’Or
A região chamada Goutte d’Or (gota de ouro), recebeu esse nome devido ao vinho branco que produzia séculos atrás. Marcadamente habitado por imigrantes vindos das várias ex-colônias francesas, o local vizinho mas bem diferente de Montmartre, passou por um processo de degeneração, sendo lugar de tráfico e venda de produtos ilegais. Mesmo hoje, na saída da estação Berbès-Rochechourt, a movimentação é intensa, lembrando muito a região da 25 de Março, em São Paulo, inclusive com suas lojas que oferecem de malas a roupas próprias das várias etnias presentes na região.
A partir dos anos 2000, a prefeitura de Paris começou um trabalho de revitalização da área, hoje cada vez mais valorizada e, apesar da aglomeração de pessoas nas calçadas, muito bem policiada.
Em 2008, foi inaugurado o Centro Musical Fleury Goutte d'Or-Barbara. Em abril deste ano, foi reinaugurado o cinema Louxour-Palais, um suntuoso prédio inaugurado em 1921, entre as avenidas La Chapelle e Magenta, além da transformação da rue de Gardes, onde a loja de Márcia está instalada desde 2008, conhecida também, como rua da Moda.


Trata-se de uma ladeira que termina da Praça Léon, lugar também antes degradado.  Dos dois lados da rua estão ateliês dedicados a confecção de roupas, sapatos e acessórios feitos à mão. Todos identificados com bandeirinhas vermelhas na frente. Assim como Márcia, os demais “artistas” vendem kits prontos que ensinam a fazer o trabalho realizado por eles. A brasileira tem três, que custam de 22 a 35 euros. “Uma vez por semana, também damos aulas  aqui para mulheres que querem aprender um lazer criativo, com oficinas de tricô e crochê, reciclagem de roupas e reúso de meias. Para quem não tem meios ou está desempregada, cobro uma taxa simbólica de 1,50 euros por oficina. É uma forma de elas valorizarem o aprendizado e terem uma atividade fora de casa, que pode depois se transformar em algo rentável.”
http://moda.terra.com.br

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